Libertadores 2025, grupo a grupo
Uma análise completa, com selo Puntero Izquierdo, sobre cada time dos grupos da Libertadores 2025
Por Leo Lepri
Grupo A
Botafogo - Estudiantes de La Plata - Universidad de Chile - Carabobo
Botafogo e Estudiantes devem disputar a liderança do grupo sem muitos problemas e preocupados um com o outro. O Pincha, de grandes incorporações ao elenco de Eduardo Domínguez, foi o segundo time a se classificar para esta edição de Libertadores. O técnico, que é genro de Carlos Bianchi, está no Estudiantes desde 2023 e já conquistou três canecos. Mas o clube ainda vive a indefinição sobre o próprio futuro: o que acontecerá com as promessas do presidente Verón e o dinheiro do - agora desaparecido - milionário Foster Gillett? No mais, é pedra cantada, mas vale ficar de olho em dois jogadores em especial: Guido Carrillo, 33 anos, centroavante dos bons, e Santiago Ascacíbar, 28 anos, volante que retornou ao clube e carrega a faixa de capitão.
A Universidad de Chile retorna à principal competição continental depois de quatro anos em campanhas medianas e abaixo da crítica no torneio local. Foi a vice-campeã do campeonato passado e segue a máxima do futebol chileno de ter um treinador argentino no comando (Gustavo Alvarez). Se a impressão é de que os clubes chilenos têm entregado pouco nas últimas edições, muito se explica pela dura fiscalização do governo nos clubes: as SADs são lei e ninguém pode gastar mais do que arrecada. O teto salarial é cumprido à risca para evitar que algum gigante afunde e o Estado saia em socorro. Já o representante venezuelano, cabe destacar, é um campeão. O Carabobo venceu o Apertura 2024, torneio do primeiro semestre, e depois foi derrotado pelo Táchira na decisão. Não deve oferecer riscos para além da logística. Mas vale o destaque de que, diferentemente do que acontece aqui no Brasil ou na Argentina, com vagas distribuídas a torto e direito, pelo menos os times venezuelanos que chegam fizeram por onde para estar onde estão.
Grupo B
River Plate - Independiente del Valle - Universitario - Barcelona
Marcelo Gallardo queima cartuchos. Voltou no meio do ano passado, nas oitavas de final, e conseguiu levar o time até as semis (quando caiu sem questionamentos para o Atlético-MG). Desde então, o homem que tem uma estátua no gigantesco Monumental de Núñez tenta reencontrar aquela chama vencedora de seu primeiro e vitorioso ciclo. O River Plate investiu 53 milhões de dólares nessa janela, trouxe quem Gallardo quis e pediu. O chileno Gonzalo Tapia, o encostado Giuliano Galoppo, o zagueiro Martínez Quarta, o meia Matías Rojas, o volante Enzo Pérez, o meia Sebastián Driussi, o lateral Gonzalo Montiel e mais recentemente Kevin Castaño. O técnico tenta, de alguma forma, criar uma máquina do tempo para levar o clube de volta para três anos atrás. Mas o futebol apresentado tem desgastado a relação com a torcida e isso ficou evidente depois da derrota para o Talleres na final única da Supercopa Internacional em Assunção.
O Independiente del Valle já não é mais aquele que surgiu surpreendentemente em 2016. Aquele projeto de ser um clube exclusivamente dedicado à revelação e venda de talentos já ficou velho. Mas a metodologia, ou a forma para alcançar as grandes conquistas, segue a mesma: a aposta na escola europeia de treinadores. Depois do espanhol Miguel Ángel Ramírez e do português Renato Paiva, o Matagigantes aposta novamente num gallego: Javier Rabanal, ex-assistente técnico de Ruud van Nistelrooy no PSV. A joia Kendry Páez começa o seu período de transição para o Chelsea e dependendo do caminhar do time é certo de que não estará presente nas fases mais decisivas. O Barcelona é o outro equatoriano do grupo e chega num melhor momento (muito por conta do que fez nas fases prévias). Além de toda a elegância de Segundo Castillo, vale o destaque para o insinuante Jenner Corozo, o habilidoso meia uruguaio Joaquín Valente e seu compatriota goleador Octavio Rivero. No lado peruano deste grupo, o Universitario chega como candidato azarão. Treinado por Fabián Bustos, mantém Andy Polo e Edison Flores como as referências técnicas do elenco (desde muito tempo). Também desembarca nessa Libertadores com a pompa de campeão peruano, mas o futebol por lá passa por uma profunda crise de identidade.
Grupo C
Flamengo - LDU - Deportivo Táchira - Central Córdoba
Grupo de viagens complicadas para o Flamengo, que deve vencer com alguma folga. Por mais que o traslado até Quito não seja dos mais difíceis, são boas horas dentro de um avião até a capital equatoriana. Lá, vai encontrar uma Liga bicampeã do torneio local. Agora treinada pelo argentino Pablo Vitamina Sánchez, de ótimos trabalhos recentes, tem como esperança de gols o paraguaio Álex Arce sondado por diversos clubes do Brasil. Como detalhe curioso, o time contratou recentemente o volante Carlos Gruezo, filho do auxiliar técnico homônimo de Luís Zubeldía no São Paulo.
Os outros dois membros do grupos foram campeões na temporada passada. O Central Córdoba, em sua primeira participação na Libertadores, ganhou a vaga ao derrotar o Vélez Sarsfield na grande decisão da Copa Argentina. O time de Santiago del Estero (aliás, primeira vez que haverá um clube dessa província na competição) se reforçou do jeito que conseguiu. Mas a grande história está sentada no banco de reservas: o treinador Omar De Felippe, de longa trajetória no futebol argentino, é ex-combatente das Malvinas. Enquanto isso, o Deportivo Táchira chega com o peso de ser o principal clube de futebol da Venezuela. Se no país o beisebol é o esporte predileto, na província de Táchira é diferente. Até por conta da proximidade com a Colômbia, bem na fronteira, tem uma torcida extremamente fanática e venceu o Clausura 2024 e também a decisão unificada diante do Carabobo.
Grupo D
São Paulo - Libertad - Talleres - Alianza Lima
Um grupo que promove os reencontros: do São Paulo com o Talleres (dá a sensação de que todo ano este jogo acontece) e de Pipo Gorosito com o Morumbi. Mas vamos do começo: o Libertad é, sem dúvidas, o principal clube paraguaio da última década, pelo menos. Time bem organizado, relacionado com o poder no país e também na Conmebol, faz um ótimo trabalho dentro de campo e tem o Olimpia como um freguês contumaz. No começo desta temporada, foi bicampeão da Supercopa paraguaia vencendo, de novo, o Rei de Copas do país. Tem um time que chama atenção pelos nomes mais veteranos: Roque Santa Cruz, Tacuara Cardozo, Martín Cáceres, Melgarejo, Martín Silva… mas também reúne bons talentos jovens, como é o caso de Iván Franco.
O representante argentino também tem um projeto estruturado e firmado no tempo. O Talleres presidido por Andrés Fassi é, assim como o Estudiantes de La Plata, carro-chefe do governo de Javier Milei na tentativa de implementação das SAFs no futebol local (e por isso mesmo um inimigo público da AFA conduzida por Chiqui Tapia). O dinheiro não é um problema por lá e Pablo Guiñazú é o gerente responsável pelo plano esportivo. Treinado pelo uruguaio Cacique Medina, de grande identificação com o clube, La T perdeu o grande nome da equipe na temporada passada, o paraguaio Ramón Sosa foi para a Premier League. Mas manteve nomes importantes como o de Rubén Botta e Federico Girotti. Já o Alianza Lima é o grande time peruano deste arranque de temporada. E muito pelo que fez até aqui na Libertadores, é claro. Não é todo dia que se elimina o Boca Juniors, nos pênaltis, em plena Bombonera. Tem uma dupla de centroavantes com história no futebol brasileiro e já bem rodada: Hernán Barcos (se lesionou) e Paolo Guerrero. Mas muito do que acontece no meio de campo passa pelos pés do volante uruguaio Pablo Lavandeira. Sobre Pipo Gorosito, o treinador que classificou a mítica cancha do Boca como “puro biri biri”, era ele o técnico do Tigre na fatídica final da Copa Sul-Americana de 2012.
Grupo E
Racing - Colo Colo - Fortaleza - Atlético Bucaramanga
Expectativas todas postas sobre o Racing de Gustavo Costas. Não é de hoje que o clube se prepara para coisas grandes. A diretoria anterior, presidida por Victor Blanco, deixou a casa organizada e mesmo com a vitória da oposição nas últimas eleições (Diego Milito é o mandatário) o cenário é o mesmo. A Academia tem aquele que é, muito provavelmente, o melhor lateral direito em atividade no continente: o uruguaio Gastón Martirena. E apesar de ter pedido Juanfer Quintero, que forçou sua saída para o América de Cali, conseguiu manter o goleador Adrián Maravilla Martínez. Deve ir longe.
O Fortaleza irá brigar com Colo Colo e Bucaramanga por uma vaga (e tem ótimas perspectivas de sucesso). O time chileno tem o peso de completar 100 anos em 2025 e sonha com voos altos na Libertadores. Mas é claro que esbarra no próprio limite orçamentário. Conseguiu tirar Claudio Aquino, emblema do Vélez campeão argentino, e manteve o centroavante argentino Javier Correa. Mas perdeu um emblema na defesa: o zagueiro uruguaio Peluca Falcón teve uma saída conturbada e foi para a MLS. Os colombianos do Atlético Bucaramanga, à época treinados pelo venezuelano Rafael Dudamel, conseguiram o primeiro título colombiano em 75 anos de história! Algo muito parecido ao que fez o Deportivo Pereira, na edição passada da Libertadores. Vão para a sua segunda participação no torneio, mas o ano começou conturbado depois da saída de Dudamel. O paraguaio Gustavo Florentín assumiu o comando, mas foi mandado embora depois de apenas oito rodadas.
Grupo F
Nacional - Internacional - Atlético Nacional - Bahia
Talvez o grupo mais complicado entre todos. Porque são quatro clubes realmente disputando duas vagas. Se o Nacional uruguaio figura mais pelo peso da camisa e um histórico bem distante, o Atlético Nacional colombiano tem um time com muita experiência. Treinada pelo argentino Javier Gandolffi, de boa trajetória pelo Talleres e não tão boa no Del Valle, a equipe tem diversos jogadores com currículum invejável: o goleiro Davi Ospina, o uruguaio Camilo Cándido, Alfredo Morelos, Campuzano e, principalmente, Edwin Cardona. O meia, sempre em briga com a balança, se destaca quando está bem. Mas é um garoto de 22 anos, que teve a sua primeira convocação para a seleção principal, o destaque neste começo de temporada: Marino Hinestroza, 22 anos, é dessas promessas que vale à pena ficar de olho.
O Bolso viverá a sua 52ª participação na Libertadores, um recorde absoluto. Mas isso se dá porque a vida é mais fácil para os dois gigantes uruguaios no cenário nacional. Porque, por exemplo, o ano passado foi inteiramente dominado - de ponta a ponta - pelo rival Peñarol. O Nacional ficou com a vaga por ter sido o melhor colocado não finalista da Tabla Anual (já que o Peñarol venceu os dois turnos e ainda a própria tabla anual). O grande nome do time treinado por Martín Lasarte segue sendo Nico López, que recentemente renovou contrato. Mas também vale destacar o centroavante Diego Herazo, El Lukaku colombiano. Gonzalo Carneiro é o outro nome pro posto, mas está em processo de recuperação de lesão ligamentar no joelho. É o time com mais dificuldades num grupo equilibradíssimo.
Grupo G
Palmeiras - Bolívar - Sporting Cristal - Cerro Porteño
O sorteio foi muito bom para o Palmeiras. É claro que Abel Ferreira gostaria de fugir da altura, mas numa Libertadores não dá para se ter tudo. E dentre os possíveis rivais que vieram do pote 2, o Bolívar ficou de ótimo tamanho. O time também viverá seu centenário neste ano e prepara uma grande campanha. Mas os esforços estão distribuídos entre o reforço do elenco e a construção de seu estádio. Associado ao Grupo City e não parte dele, vale sempre o destaque, o clube tem no mecenas Marcelo Claure uma segurança próxima do fim. O empresário já anunciou que pretende deixar a presidência. E aí o futuro será incerto.
O Sporting Cristal foi o segundo time que mais pontos acumulou na temporada passada no campeonato peruano e por isso se classificou à Libertadores. Ou seja: foi um time estável, mas sem o brilho necessário para “campeonar”. O destaque é o experiente centroavante uruguaio Martín Cauteruccio, 36 anos, que chegou a liderar o ranking de goleadores do mundo em 2024. Agora treinado pelo argentino Guillermo Farré, os objetivos são bem mais modestos. Passar pela fase de grupos já seria considerado um sucesso. Enquanto isso, o Cerro Porteño passa longe de um ano tranquilo. Treinado pelo também argentino Diego Martínez, ex-Boca, o clube paraguaio já entra nesse grupo com a pressão por conta do racismo habitual de seus torcedores. E dentro de campo não há muito mais que possa apresentar além de alguma ideia ou outra de Pachi Carrizo, o meia argentino mais habilidoso da equipe, e apostar na segurança de Gastón Giménez, incorporado na última janela de transferências.
Grupo H
Peñarol - Olimpia - Vélez Sarsfield - San Antonio Bulo Bulo
O grupo que restou, de alguma forma. Porque todos estes clubes tiveram um início de 2025 muito complicado. O Peñarol, de ótimo caminhar na temporada passada, parece ter se perdido neste ano. Diego Aguirre enfrentou problemas entre os atletas no vestiário: o brasileiro Léo Coelho gravou um áudio que vazou falando mal de seu companheiro de zaga, o uruguaio Javier Méndez. O time não consegue se levantar no campeonato local e Leo Fernández, jogador mais importante e decisivo do time, por quem o clube fez o esforço inédito de pagar 7 milhões de dólares, não se reencontrou. Aguirre ainda tem muito trabalho para colocar a equipe nos eixos. O Olimpia de Martín Palermo, que conquistou seu primeiro título como técnico no final do ano passado, começou a temporada justamente sendo derrotado pelo Libertad. Um time com muitos jogadores tarimbados, Darío Benedetto, Lucas Pratto, Derlís González (lesionou-se no último clássico alvinegro)… mas que ainda é uma grande incógnita sobre o que pode entregar nesta Libertadores.
Com o Vélez Sarsfield, a mesma situação. O time que teve um 2024 para guardar na memória treinado por Gustavo Quinteros (com três decisões e um título argentino ao final do ano) esteve praticamente irreconhecível até aqui. Seba Domínguez, aquele, ex-volante que jogou no Corinthians, assumiu o time e não conseguiu fazer absolutamente nada. Foi embora sem pena e nem glória. Agora chegaram os irmãos Schelotto e parece que aos poucos algo começa a entrar nos eixos. Braian Romero é a esperança de gols e Agustín Bouzat a segurança no meio. O zagueiro Valentín Gómez, que quase acertou com o Cruzeiro, teve um negócio frustrado na Itália e acabou retornando ao clube. E por fim, o San Antonio de Bulo Bulo deve fazer apenas seis jogos mesmo: três em casa, três fora e está bom demais. O clube que há quatro anos disputava a terceira divisão do futebol boliviano, foi o primeiro a se classificar para essa Libertadores (ainda em maio de 2024) ao pegar todo mundo de surpresa e vencer o Apertura. Em que pese o carisma do escudo, a participação deve ficar apenas nisso mesmo.